Terça-feira, 2 de Outubro de 2007

Quando não se respeita a ordem da Natureza!

Pior que a existência das iniquidades é a displicência de quem as pratica!

A precariedade e carestia não são mais realidades de sociedades subdesenvolvidas, mas obstáculos que qualquer sociedade actual é compelida a superar ou pelo menos lidar. O que diferencia os países não é a miséria ou riqueza, mas somente o formato da pobreza e o que a espoleta. Nos considerados em período de convalescença de flagelos de outrora, como guerras fratricidas, a penúria é um corolário de uma conjuntura política, social e económica incipiente. Nos restantes, estandarte do vanguardismo e promovidos a arquétipos dos precedentes, a insegurança e indigência é um efeito subsequente da inépcia em gerir recursos e preservar o papel fulcral do Homem na produção independentemente das inovações do progresso.

Confirmando o típico, os paradoxos são frutíferos também no âmbito respectivo. É curioso constatar que a formação e a panóplia de experiências, um curriculum enriquecido e um período académico paradigmático são hoje auspícios para um futuro patibular em lugar de um  refulgente e promissor. Promove-se, e bem, o investimento na formação escolar, constroem-se alternativas para aqueles cujas aspirações não consideram o meio universitário, contudo proscreve-se o imperório: a possibilidade de efectivação de sonhos que se alimentam e perseguem no périplo do crescimento.

 Não obstante o facto de assumir como crucial encarar-se qualquer escolha como um fim em si e não apenas como um meio, é incomensuravelmente soturno um curso ser somente sintomático de realização pessoal e a sua finitude ser o início de um caminho obscuro porque incerto e angustiante. A sociedade sofre mutações ingentes, identificando-se aliás a emergência de um novo estracto: o “precariado”. Conjunto de indivíduos altamente qualificados cujos apanágios são precisamente empregos esporádicos, efémeros, facilidade de despedimento, ordenados irrisórios e dificuldade ou impossibilidade de ascensão. Confrangedor é quando os réprobos são furtivos ou estão elididos: os políticos, o Estado...todas as instâncias que dada a volatilidade dos seus representantes acabam sempre por ser incompósitas e sair incólumes. Adjuvante a essa inocência é a inefável retórica destes líderes que fazem das características de agora realidades inelutáveis.

Os défices e crises económicas recorrentes são argumentos temerários para a aceitação de sacrifícios em prol de períodos reverberados quando suscitados pela má gestão, expensas inadvertidas e conspurcação nos órgãos de soberania e direcção.

Neste caso sou a voz do povo e portanto prolifero as assumpções do senso comum. A estandardização na política é indubitável quando os protagonistas do ping-pong político prorrogam as condições presentes; as promessas risíveis  fazem de nós ludibriados voluntários porque estiolam no momento que findam as campanhas eleitorais; as prelecções são inanes porque o intuito com que são consignadas é exclusivamente persuadir e não perscrutar a sua materialização num futuro limítrofe;

A política é um antro ignóbil onde os seus mentores procuram somente visibilidade,  mediatização e a saciedade de uma necessidade remota: a avidez de poder, olvidando repetidamente que o silêncio da multidão se deve à confiança delegada naqueles que se comprometem com as suas causas.

Sou uma néscia em matéria de retoma económica, todavia não sucumbo ao capital cultural dos exímios no assunto. Acredito que as reformas realizadas nos tempos que correm são de facto prementes. Corroboro a tese dos que atestam a reestruturação da função pública, saúde e ensino se a sua concretização não for indissociável da aleatoriedade no escrutínio de quem é dispensado. Confinarmo-nos aos números, despedindo a quantidade apontada como necessária,  é menosprezar competência e probidade de quem exerce os cargos com o maior zelo. Ignorármos que são dispensados casais, únicos membros que garantem a subsistência de uma família, é aplicarmos paliativos e não soluções.

Invertemos os papeis com estas medidas, em lugar da economia ser um meio para incrementar o nível de vida da Humanidade, é o homem o trucidado paulatinamente em prol do cumprimento dos níveis económicos alvitrados pelas organizações supra-nacionais.

Confesso que a diminuta indulgência que persistia perece quando constato que essa conduta parcimoniosa é sobejamente selectiva e coarctada a determinados grupos. Serão preponderantes cada um dos acessores e secretários dos ministros, deputados e seus congéneres? Serão os mesmos indivíduos de tal forma ocupados ao ponto de todos carecerem de motoristas? Será a celeridade e conforto obrigatoriedade incontornável ao ponto de as únicas marcas possíveis serem Mercedes, BMW ou Audis? Onde se encontra o comedimento e a frugalidade alvitradas pelos nossos regentes? É hora do grupúsculo dos intocáveis ser dizimado!

A reposição e equilíbrio no orçamento de Estado não é atingido apenas com o incremento das receitas, via impostos e privatizações, ou mediante o recrudescimento das despesas com o pessoal...Verificando que existem medidas que em conúbio com as últimas são idóneas, transcende a minha compreensão como pessoas de uma inaudita inteligência as olvidam incessantemente.

O Estado-Providência desfalece e o emprego, a saúde, o ensino e a habitação passam a ser alicerces quiméricos, indultos de uma sorte.

O Estado está anémico, não pela tibieza dos seus cofres, mas pela debilidade e fatuidade dos que o representam. Os frutos nascem quando as raízes se encontram num estado salutar...e nós queremos os frutos sem regar as raízes!


publicado por portalegreeomundo às 22:15
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