Quando a solução não depende do acaso!
Solicitaram a minha assinatura para trucidar definitivamente o maior flagelo que a Humanidade inventou: a guerra como solução idónea para as beligerâncias e antagonismos. Se o momento podia ter sido somente mais um e a assinatura apenas sintomática do beneplácito, a situação tornou-se insigne. Reparei que calamidades que decorrem exclusivamente de uma faceta furtiva e funesta intrínseca ao Homem são pelo mesmo assumidas como triviais. Tornamo-nos indolentes e insensíveis, somos capazes de coabitar com o cataclismo ainda que a solução não nos transcenda. Encontramo-nos numa altura patibular, em que a resolução destas patologias, réprobas por uma degeneração morosa mas crescente, é considerada quimérica. Paralelamente a todas as peculiaridades desta Modernidade, persiste um paradoxo inaudito: a possibilidade de mudar o Mundo é progressivamente exequível mas a intervenção estiola.
Em tempos ancestrais, e de uma forma lancinante, considerávamo-nos coibidos de intervir porque crédulos da limitação imputada pelas directrizes do omnipresente, enclausurados no obscurantismo pelo crepúsculo do conhecimento insipiente desconhecia-mos a existência da faculdade que nos diferencia: a razão. O que acontecia era destino, malogro ou fortuna; no contexto ulterior, o Iluminismo disseminou, paulatinamente começámos a perceber que, não obstante à verosimilhança da existência de forças que nos excedem, a nossa vida e decisões, rumo e mudanças, corolários e consequências são sobretudo, senão totalmente um resultado da nossa vontade; agora, no tempo de espectro de evolução incomensurável, somos seres conscientes, conhecedores das nossas fronteiras, ainda que aspirando sempre o horizonte, onde os problemas que imperam e são prementes têm o homem como cerne: começam por culpa deste, desenvolvem-se por displicência do mesmo e não findam por frivolidade de uns e conformismo de outros.
É ignóbil como convivemos tranquilamente com a atrocidade! E quando consigno tais assumpções , imediatamente se insurgem aqueles que se resignam diariamente reclamando e indagando o que pode ser feito, se quem governa são os políticos? Pois os que se sublevam com quem os acusa, para eles inadvertidamente, ostracizam que a realidade não é o que existe, mas um resultado do que assumimos como tal. A guerra não é uma conjuntura inerente à convivência, é imanente porque o homem se habitou ao facilitismo. Proscrevemos que quem nos lidera tem legitimidade porque a delegámos, podemos rebelar-nos, gritar mesmo que ninguém nos ouça, porque deixar de sonhar é morrer. A esperança sucumbiu ao conformismo e o marasmo prolifera, porque é confortável delegarmos responsabilidades e eximirmo-nos da nossa culpa. A guerra existe porque a perpetramos.
O mutismo profuso é ensurdecedor, pois o pior veneno para a audição é o silêncio consequente da incapacidade de nos ouvirmos, de nos compreendermos, de nos juntarmos. A Torre de Babel ressuscitou dos primórdios e agora não está confinada a uma parte do globo, a Mesopotâmia, é o mundo! Os tempos de línguas universais são concomitantemente e curiosamente o tempo em que menos nos entendemos.
Verdade que sou exímia a detectar defeitos, não por fatuidade inata mas por perceber que sendo a perfeição utópica e indesejável, a mudança é imperória porque sinónima de maioridade.
Tecemos impropérios aos tempos, lamuriámo-nos da ausência de causas, somos saudosistas de um 25 de Abril onde as pessoas tinham porque ser refractários e olvidamos que os motivos para a luta desapareceram porque os valores pereceram. Alegamos a carência de motivos plausíveis para pugnar, sem repararmos que a sua ausência não é corolária de inexistência mas escassez de procura. A altura é deveras pungente, as ditaduras não são iniludíveis porque não têm cara, não estão circunscritas a um espaço territorial e não têm os dissidentes. O despotismo é da passividade e indolência do indivíduo anónimo que, ainda que não interfira, corrobora obliquamente com os actos ominosos porque se silencia. Deixa que terceiros com os seus álibis inanes obnubile a sua lucidez e dilacere o seu discernimento, acabando por convencer que a querela é aceitável. É anémico perante a persuasão dos mentores dessas soluções em prol de finalidades altruístas e por isso não atenta que os argumentos não passam de invólucro. A ambição por hegemonia é inexaurível e desproporcional face ao anseio prurida de nos tornarmos Homens.
Vamos expurgar o sonambulismo que nos invade, depurar esta sedentariedade de acção e acreditar que o idealismo não é académico! A vida é uma construção, se é irrefragável a capacidade de a destruir, tem de ser inolvidável a possibilidade de a reconstruir!
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