Terça-feira, 2 de Outubro de 2007

O lado oneroso da mudança!

A globalização emerge como fenómeno inelutável impelindo a inoculação de uma transformação inaudita. A Idade em que vivemos, ou sobrevivemos, está confinada a uma ambiguidade suprema e inigualável, razão que justifica a dificuldade em determinar um termo consensual que a conceptualize satisfatoriamente. Alguns relegam-na a ao mero período ulterior ao anterior: Idade Pós-Moderna; muitos outros são contundentes ao conceito, considerando-o diminuto, uma vez que a conjuntura que deflagra a contemporaneidade é mais do que a simples radicalização ou agudização das características do período antecedente; insurgem-se ainda os paladinos de períodos remotos, mais pragmáticos, consideram o século XXI a Idade Pós-Metafísica ou Pós-Ttradicional atendendo às premissas que não exasperam controvérsia. Não obstante á presença de características inolvidáveis do Classicismo e era Tradicional nos tempos que decorrem, é um facto iniludível que no que diz respeito ao conhecimento, mais propriamente, ao que lhe confere legitimidade, fundamento e autoridade os seus alicerces mudaram drasticamente, comprovando que, pelo menos, na área epistemológica a ruptura é indelével.

São os novos meios para disseminação do conheciment que me suscitam preocupação dilacerada. Sem querer limiar a posição ufana de crítica que simplesmente colige o lado deplorável da situação, exímia na condenação mas ignota na exegese global, a verdade é que como cidadã e sobretudo receptora destes  modelos originais de conhecimento me consinto o direito de pugnar quando a situação é pesarosa.

Os meios de comunicação, mais propriamente a televisão, são os protagonistas de uma notícia que erradica o regozijo. Os microprogramas são a novidade. Inefável para os seus mentores, porque a confinam ao seu carácter anódino. Nociva, na verdade, porque é mais uma índice do funesto que prolifera,  é mais uma materialização da faceta deplorável da celeridade.

Com o intuito de emular a Internet que impera, a televisão sucumbiu ao seu formato trespassando de uma forma inadvertida entretenimento e informação cada vez mais exígua porque exageradamente sintéctica. Se os telejornais portugueses pecam e se afastam do que deve ser arquétipo, pela duração, os restantes são réprobos porque cometem o assimétrico.

A BBC caucionou um acordo com a “Youtube” para divulgar no mesmo site conteúdos em formato pequeno; o ex-vice-presidente americano Al Gore lançou em Londres a Current TV cuja finalidade é a profusão de filmes de três a oito minutos, com intuito de fomentar o interesse do destinatário e claro não ser minimamente fastidioso; o director da BBC conjectura a hipótese de circunscrever o noticiário à sua faceta mais lacónica, limitando-o ao  minuto ( caso do programa “60 seconds” do canal BBC3) alegando a ausência de resistência do seu público; e não chegando a excessiva concisão para transbordarem os defeitos, ainda são facultados os meios para que a época seja de paroxismo de subjectividade e hegemonia perigosa do arbítrio individual. Mesmo pressupondo, quero acreditar, o escrutínio anterior dos programas pelos competentes, o “Chanel Five”(canal privado) já ocupa metade do seu noticiário da noite com “clips” enviados pelos telespectadores.

Facilmente nos deixamos ludibriar pelos apanágios inerentes ao vanguardismo da comunicação tangível nos exemplos enumerados e na conjuntura à nossa volta, todavia é deveras premente que consideremos que a ambivalência é uma constante. São irrefragáveis as prerrogativas imanentes a esta liberdade de expressão e confiança no individuo anónimo, se porventura, essas facilidades forem apropriadas considerando valores, probidade,  rigor e competência. O busílis da questão é precisamente a aptidão para a promiscuidade entre liberdade e libertinagem. Extrapolamos e aproveitamo-nos da maneira mais nefasta quando de alguma forma reclamam que nós, civis, sejamos mais activos e participemos de forma responsável no processo de sermos um Mundo que se conhece. Depressa aparecem peças denotando proselitismo, puritanismo obscuro onde a auto-promoção e o prosaico estão latentes. Atendendo ao facto que nos dias que correm parecer ser condição necessária e simultaneamente suficiente a existência de público, duvido que sejam censuradas ou impedidas de serem transmitidas, mesmo que isentas de conteúdo.

Paralelamente aos efeitos subsequentes à mutação do receptor em emissor, coexistem as consequências inerentes à fugacidade dos programas, sobretudo porque se perscrutado dissimulado no fenómeno está uma forma de vida comum e ignóbil: a do consumo sem critérios ou requisitos, a da procura de tempo que nunca chega porque a tranquilidade pereceu, a da realização de tudo com a máxima rapidez chegando o superficial e a ligeireza para que, aparentemente, nos distanciemos do néscio;

Os microprogramas são um sintoma idóneo da postura e forma de estar de agora, satisfaz-nos e chega-nos o geral que no fundo é inanidade porque em lugar de ser adjuvante à compreensão é condicionante. Muito embora reconheça o exagero subjacente ao que consigno, creio que nos aproximamos da barbaridade. Não nos imiscuímos nos contextos, não permitimos que se entranhem as conjunturas e ainda assim logramos opinar, comentar, repudiar ou aceitar, agora até produzir!

É primordial recordar, uma vez que parece proscrito, que a comunicação é um pólo com uma supremacia incomensurável exigindo como tal a presença total, e não parcial, de profissionalismo. Como componente  auxiliar considero benéfico a contribuição do público através de realizações pessoais, como peças que ocupam espaços  nos jornais equiparando-se a um trabalho jornalístico acho contraproducente e pernicioso.

Os tempos são de indigência da sapiência e carestia de dedicação, ausência de vontade de saber e preocupação exasperada em sobressair e ser conhecido apenas,  se são criadas as condições propícias  à parcialidade desprovida de credibilidade acredito que o amanhã será um imbróglio inextricável.

 


publicado por portalegreeomundo às 22:04
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