A vida não pára...
Enquanto crianças não sentimos o tempo e o mesmo é somente sinónimo de crescimento, mudança de escolas, alteração de números e experimentações. A descoberta impera. Somos curiosos também porque não conhecemos mas essencialmente porque queremos desvendar.
Porque o Mundo é qualquer coisa digna de perscrutação.
Quando a idade imberbe já limia a adulta o tempo reclama a maturidade e a mudança. Os pais não sustentam as nossas quedas e passam a instância omnipresente em qualquer conjuntura. O apoio é caucionado, independentemente de todas as vicissitudes, pelo amor inelutável mas as decisões deixam de ser prescritas e são apenas o resultado do livre arbítrio ; os avós, ainda que refúgio perene não são a imunidade capaz de erradicar qualquer monstro que ameace a nossa confiança, conforto, segurança e sobretudo ausência de medo; a nossa casa deixa de ser a redoma impenetrável para passar a ser o espaço do qual partimos para sempre mas voltamos por sabemos que ali podemos colmatar todas as lacunas emocionais que a Caixa de Pandora que o Mundo se tornou nos legou e imputa.
Lidamos, todavia, da pior forma com esta alteração de relação com o exterior. A erradicação dos alicerces que outrora mediavam a nossa relação com a Humanidade e o Mundo torna-nos exangues e paulatinamente oblitera o ímpeto da sublevação e de curiosidade ingentes nos tempos pueris. A responsabilidade faz de nós seres frágeis, a independência deprimentes e a dificuldade desistentes. Crescer não é sintomático de solidão apenas emancipação com tudo o que lhe é imanente. As pessoas não perecem, apenas pretirem das funções que tiveram em tempos precedentes.
Os que vão deixando de crescer e passam a amadurecer comportam-se como meninos rudes que rejeitam a oferta dos nossos predecessores: a passagem do leme! Queremos ser eternamente guiados, quando esta é altura idónea para conduzirmos. Subscrevendo Pessoa, É Hora! De deixarmos de refilar para passarmos agir, de abdicarmos de nos zangarmos quando as expectativas são goradas para pugnarmos e conquistarmos, de prescindirmos de nos rir, admoestar e reprovar os erros das gerações antecedentes e comprovarmos que somos melhores. Não porque providos de apanágios genéticos inauditos mas porque nos dedicamos, aprendemos, ouvimos e acreditamos que a metamorfose é afanosa mas nunca quimérica.
Falo para ti, para mim e para nós: jovens da era em que tudo é efémero, inane e rapidamente volátil. Deixemos de nos afirmar com cigarros, bebida, drogas, sexo e hip-hop...Não se quer uma geração de filósofos sagazes e comedidos, mas também não se pretende uma geração a transbordar de vícios que espoletam a degeneração: o consumo, o mutismo e o narcisismo! Façamos da mudança o traço fulcral susceptível de ascender a paradigma às gerações vindouras. É premente trucidar essa tendência cíclica de sucumbir à corrente e nos tornámos cópias do que nos irritava e repugnava na conduta dos mais velhos.
Acolhemos os ícones de tempos remotos e gritamos Che Guevara, manifestamos copiando os modelos do Maio de 68, somos avessos ao regime e só falamos de sistema, que sinceramente até hoje ainda não entendi bem o que é, mas desconhecemos a crise no Darfur, pouco nos importa as guerras perpetradas, a exploração infantil e o cataclismo ambiental, onde todos os valores que esses arquétipos preconizaram desfaleceram. Queremos liberdade sem acolher a autonomia que é condição indissociável, exigimos democracia e igualdade mas ainda simpatizamos com ideias extremistas e fundamentalistas oriundas de ideologias fascistas e comunistas, fazemos campanhas satíricas onde encontramos similitude entre camelos e ministros e no momento das eleições a abstenção é endémica.
As práticas da Revolução Industrial prevaleceram e nós somos o resultado das máquinas de ludibriar desta indústria cultural: estandardizados na maneira de estar, de agir, de vestir e automatizados na maneira de pensar e intervir, ou eximir-se de interferir.
“Morangos com Açúcar” em excesso neste caso tem um efeito assimétrico ao previsto: anemia e debilidade mental!
E o tempo corre...Nós julgamos que esperamos e alcançamos, mas o Mundo espera e desespera!
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