Terça-feira, 2 de Outubro de 2007

As palavras não chegam...

 

Uma viagem é indubitavelmente uma descoberta!

Partimos para encontrar. Tudo está minimamente definido. Locais incontornáveis, espaços inefáveis, monumentos fulcrais, museus cruciais...Os critérios são o emblemático, o histórico e o marcante. A fronteira entre imaginação e a racionalidade torna-se dúbia, porque os sonhos misturam-se com as conjecturas. A precariedade erradicada pela informação e globalização das imagens faz da insegurança, julgamos nós, estado anímico de outrora. O facto de estarmos porfiadamente onde nunca estivemos exorta a arrogância de dominarmos um Mundo por desvendar.

Mas no momento em que levantamos o pé da terra pária e o acentamos no lado de lá, intelegimos que o que nos aguarda transcende o poder dos sentidos; percebemos que se antes fazia sentido sair para conhecer o que nunca se tinha visto, agora faz mais ainda porque a clivagem entre o que obsequiamos e experienciamos é incomensurável; constatamos que o país é apenas uma inerência subsidiária quando comparada ao que passamos a conhecer de nós durante o périplo.

Irrefutavelmente paradoxal, mas a verdade é que é quando saio que te percebo melhor Portugal e torno-me concomitantemente menos indulgente contigo. Protelar é arriscar e desesperar! Delegar responsabilidades pode ser determinante na escolha de um futuro: vaguear ou vingar! Admirar o alheio é exíguo quando a contiguidade é assumida como quimera!

O desconhecido torna a diferença real. Não pelo seu número ou multiplicidade, mas porque lá fora sou eu quem procura um lugar. Sou eu a diferença no meio da similitude. Quem visita e quem reside são os extremos antagónicos de um sítio comum. A trivialidade e a novidade pertencem ao mesmo espaço. Aqui a vida e o que a caracteriza parece-me plausível, simplesmente natural e impossível de ser de uma outra forma. Lá, a presença na varanda de uma casa, a corrida ao longo do rio, a ida para o emprego, o descanso numa esplanada, a entrada na universidade ou a compra do pão são hábitos estranhos. Inexplicavelmente, ostracizo que as nacionalidades são inúmeras mas a Humanidade é una!

Deslizo nas prolongadas avenidas e percorro os livros de História e Geografia que estudei e me mostravam que a assimetria existe. O meu corpo é mudo porque o ignoro, o cansaço físico não subsiste à ânsia de me apropriar das gentes, do que me rodeia, do que os conselhos olvidaram e o turismo menospreza.

Volto isenta de saudosismos, expurgada de qualquer nostalgia e imune à melancolia. Não porque sinta que sei que este é o meu lugar, mas porque vivi. A mala levou sonho e trouxe momentos. Mais importante que o início de um cosmopolitismo, é sentir que materializei o que numa viagem é imperório: a aprendizagem e a mudança.

Retorno incapaz de fugir á comparação entre o que vi e o que vivo diariamente, consciente que o meu país continua pequeno para gente que conceba o horizonte e não se contente com um limite tangível, mas certa que nada é irreversível. Pior que não ser grande, é desejar permanecer anódino. A conjuntura é adjuvante, todavia é a pertinácia o decisivo. É iniludível que lá fora o desenvolvimento é visível e o progresso nítido, contudo é a perseverança a gasolina de um motor que nunca pára.

A viagem por um país furtivo, foi a viagem por tudo o que acreditava conhecer tão bem: eu, vocês (portugueses) e nós (Portugal). Admoestar não resolve, acreditar soluciona. Não está bem, melhora; se acredita, tenta; se está cansado, descansa. Não pára de perseguir qualquer coisa. Carência de um objectivo é o elixir do marasmo.

 

 

 


publicado por portalegreeomundo às 22:17
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