Quarta-feira, 9 de Agosto de 2006

A objectividade da guerra!

 

Após praticamente um mês de beligerância no Médio Oriente a forma como vemos o confronto vai mudando. Os dias passaram, os ataques agravaram-se, as soluções surgiram…e nós, por motivos ignóbeis, tivemos demasiado tempo para mastigar o que estava a acontecer. A análise já não se restringe À crítica do comportamento de cada uma das partes ou condenação dos que as lideram, mas já vem envolvida de um cariz pessoal que circunda o sentimental. Claro que no início também a revolta e a tristeza eram inerentes À censura, mas com protelar do flagelo parece que a componente sentimental se vai sobrepondo À racional. Provavelmente porque a manutenção e a continuidade só agudizaram o seu carácter irracional e animalesco. O que aniquila qualquer ímpeto de clarividência. Se no começo era fácil a explicação dos “porquês”; a consideração dos argumentos que advogam os países envolvidos; a aceitação da demora de uma reacção internacional, surge agora como uma capacidade difícil de concretizar.

É impossível fazer qualquer juízo dos acontecimentos sem que nos venham as imagens do fumo que esconde um ror de corpos. Dormimos, acordamos, sorrimos e vivemos, e a fricção permanece, as mortes aumentam e o sofrimento corrói. É absolutamente incrível a maneira como uma guerra impõe a ambiguidade e a incongruência da vivência e sobrevivência. E o mais risível de tudo isto, é que antes desta querela começar, outras aconteceram. Milhares já morriam e continuam a morrer de fome, de doença. O desespero já existia… Será por todos os dias nos imporem a sua existência que a necessidade de a abordar incrementa?

Caricato verificar ainda, como um confronto bélico ali ao lado minimiza, subestima e menoriza todos os antecedentes e presentes fenómenos humanos decadentes. A certeza que carregar no botão da TV, comprar o jornal, ver as notícias trará a confirmação do desprezo pela vida, faz de nós, por breves momentos, seres diferentes. Tristes e angustiados já não pelo nosso dia ou gravidade dos nossos problemas, mas porque pertencemos a uma espécie que teima em manter-se no primitivo. Não são eles, somos nós! A culpa não é deles, é nossa! Porque o eles somos nós quando a destruição existe porque o Homem também existe. Obrigamo-nos a ver e a saber mais, a discutir o tema e a disponibilizar escassos minutos diários À reflexão do que com outros sucede, como se fosse a única forma de nos redimirmos de toda a impotência a que estamos confinados. Sempre que, durante este mês, brigámos, chorámos ou desesperámos detestámo-nos por dar azo ao egocentrismos que estamos tão habituados a alimentar. A guerra quando entra pelas nossas casas e aparece em qualquer canto tem o poder de nos tornar mais solidários e alargar os limites do nosso umbigo, mas também de evidenciar a faceta egoísta que é intrínseca ao homem. Só durante esses dias, semanas, meses avaliamos o carácter mesquinho que envolve as nossas preocupações; só enquanto outros morrem nos apercebemos do quanto exigimos para sorrir. A frivolidade e crueldade de terceiros é que nos demonstra como ignoramos a vida e fazemos da felicidade um conceito subjectivo. Só a guerra nos obriga a valorizar os que temos pela verosimilhança de os perder. Pois, porque bem no fundo sabemos que estes cataclismos não acontecem por responsabilidade de um povo, fundamentalismo de religiões ou extremismo de grupos terroristas, mas porque a maldade é inerente ao ser humano. Por isso ninguém está incólume ou imune.

Assim, e igualmente de uma forma nefasta, faço desta guerra, irrefutavelmente hedionda, um acontecimento com a sua parte boa. O facto de todos os restantes que ali não combatem, não morrem ou não padecem…se aperceberem da obscuridade da sua essência. Concomitantemente ao fim da calamidade, será o fim das indulgências e vontade de mudar e por isso é que uma guerra que dura há tanto tempo parece ser, paradoxalmente, curta!


publicado por portalegreeomundo às 18:24
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Quinta-feira, 3 de Agosto de 2006

Portalegre e as lacunas por colmatar!

 

      Não obstante a todas as mudanças positivas que se têm verificado na cidade, ressalta, ainda, uma panóplia de carências imperdoáveis no seio da mesma. Não sendo a perfeição um paradigma concretizável, pede-se que se assuma pelo menos o satisfatório como nível a atingir. Portalegre é uma cidade que, embora em expansão, pequena, preserva a proximidade dos governantes aos cidadãos, da própria câmara ao que acontece no local. Factor que, indubitavelmente, poderia ser garantido como apanágio de um melhor (senão perfeito, pelo menos satisfatório) desempenho camarário. O facto de tudo se saber, de facilmente nos cruzarmos com Presidente da Câmara, ou aqueles que alguma coisa decidem frequentarem os espaços onde são paliçadas as medidas que tomam (situação irrisória num centro urbano de maiores proporções) poderiam ser aclamados como benefícios, em detrimento do carácter mesquinho que lhes é associado.

Por outras palavras e fragmentando a crítica, acho inadmissível numa cidade como Portalegre, já ser difícil, ou mesmo impossível, conseguir um espaço para a prática do deporto; ou encontrar um ambiente com tudo o que nele deve estar incluído para as crianças brincarem; ou desfrutar das mínimas condições e infra-estruturas nas piscinas para pessoas com deficiências…Estas são apenas a amostra de um rol nefasto de faltas imputáveis À despreocupação camarária com o bem-estar de todos os grupos, minorias e faxas etárias existentes.

Pegando na primeira, é visível e incontestável a existência de inúmeros ringues e pavilhões em Portalegre e arredores. Qualquer estranho À cidade concluiria que aqui se promove o desporto e a saúde e se incentivam os habitantes À prática desportiva. Contudo e excedendo a ilusão das aparências, a verdade é que Portalegre consolida a imagem de avessa ao deporto. Com excepção dos desportos individuais (como o jogging, ciclismo…), que com facilidade se praticam nas serras ou asfalto, é extremamente difícil encontrar um espaço para os desportos colectivos… E o risível da situação reside precisamente no facto dos espaços existirem, mas não ser permitido o seu usufruto sem um conjunto de autorizações superiores. Assimetricamente ao que acontece noutras cidades, como Évora ou Beja, aqui um grupo de amigos que queira matar saudades dos jogos conjuntos tem de estar disposto a esperar ou desesperar; Quanto aos parques infantis, a sua ausência é evidente se deambularmos pela cidade. Extraindo um ou outro pertencentes a condomínios (como o das Carvalhinhas), são exíguos os públicos tendo em conta a população pueril. É imprescindível a construção de mais parques infantis, não só para o conforto das crianças, como também para descanso dos próprios pais. Pois se o apego ao bem-estar passasse da teoria à prática, os mesmos parques passariam a ter animadores (não com o objectivo de substituir responsabilidades parentais, mas de divertir as crianças com brincadeiras apropriadas À sua idade); Por último mas igualmente importante, a inexistência de condições minimamente razoáveis para pessoas com deficiências motoras ou outras nos diversos espaços sociais. Menciono por exemplo as piscinas para fundamentar a censura. Como é possível que em cinco piscinas no centro e zonas contíguas a Portalegre, exista apenas uma que facilite o acesso a deficientes motores. Subjacente a tudo isto está descriminação, ou de uma outra forma, somente a comodidade da maioria., defeito que actualmente é imperdoável. Valem os esforços das auxiliares e voluntários que não se conformando com as dificuldades, insistem em garantir a felicidade daqueles que a ela também têm direito.

Concomitantemente a estas lacunas existem muitas outras, na minha opinião de forma alguma secundárias. O facto dos jovens, crianças ou deficientes (não contando com os motores, claro) não garantirem a subida dos votos por impossibilidade de exercerem esse direito, não quer dizer que sejam relegados ou esquecidos. O mérito de um mandato camarário não está em presentear aqueles que nele votaram, mas em privilegiar os que se opuseram ou não puderam contribuir, demonstrando as razões porque deviam ser escolhidos. Desta forma, considero imperório a dedicação aos que, por razões diversas, não conseguem reclamar ou não se afirmem como obstáculo À reeleição, o que se pretende não é igualdade mas equidade!


publicado por portalegreeomundo às 10:32
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Os meios de comunicação e o seu Norte

Remonta o século XX o nascimento da sociedade de massas e, consequentemente, de todos os seus corolários ou conjunturas que lhe deram origem. Concomitantemente às ideologias, desporto, moda, destacam-se os “media” como protagonistas de uma estandardização de comportamentos perene. Na sua longevidade e não na sua forma, uma vez que com a metamorfose dos tempos cessaram os modelos ou moldes obsoletos. Os meios de comunicação, em todas as suas vertentes, fomentaram esta necessidade de uniformização como processo obrigatório para a integração. Baniram para todo o sempre a disparidade e a multipluralidade de gostos. Criaram um conjunto, cujos extremos são as massas ou a elite. E o fosso é tão fundo que se torna praticamente impossível a sua promiscuidade. O cinema criou as estrelas que se tornaram deuses; as rádios abriram as portas da fama às músicas e músicos que desejavam ver imortalizados; a imprensa evidenciava as notícias que interessavam e assim manipulava a cultura; a televisão adoptava as imagens à notícia que queria ver como foco de atenção. Todos estes são factos irrefutáveis e subsequentes de um período histórico, e por isso inelutáveis actualmente, no entanto e o que se torna deveras revoltante é a forma como os objectivos se mantiveram e a maneira de os alcançar se tornou mais nefasta.

Cada vez mais os meios de comunicação desempenham um papel fundamental na sociedade, por uma panóplia de razões: são fontes de conhecimento, cultura, informação, educação, publicidade e formação. Uma autêntica bomba de influência e manipulação. Nada disto é condenável desde que os propósitos que os conduzem sejam verdadeiramente bons para a construção de uma Humanidade diferente. Pior do que a ausência de intervenção, só mesmo o não reconhecimento do poder desta faculdade e, simplesmente, o desprezo pelos seus efeitos. E atenção a um facto que muitas vezes se ignora, não são apenas os cérebros frágeis das crianças que estão susceptíveis, todos nós somos sensíveis, a partir do momento em que são a sede para sabermos o que se passa no Mundo, são a raiz para a construção de uma opinião e isso implica, a mínima ou máxima, influência.

Subscrevo, assim, a necessidade de um exame de consciência aos que passam e tratam a informação. Todos os meios de comunicação são os binóculos do planeta; o ponto de partida para a emancipação de uma opinião; a veracidade dos factos; o elo entre os transcendente e o que alcançamos; É realmente imperório que não menosprezem os seus alicerces ou adulterem as suas directrizes. Os seus mentores devem ser sempre: a imparcialidade, a isenção, a veracidade (e não verosimilhança) e a fidelidade aos ouvintes, leitores e espectadores.

Não estou deste modo satisfeita com o comportamento que têm adoptado nos tempos recentes. É ignóbil para os que se apercebem e deveria ser vergonhoso para os que nessas instituições estão integrados a forma como vendem a essência da sua profissão. Quando a ambição é o agrado dos poderosos em detrimento da verdade À população; quando as notícias deixam de ser credíveis para passarem a ser móbeis para a subida das audiências; quando os programas, as primeiras páginas, filmes e afins andam À mercê dos valores quantitativos e não qualitativos…o futuro não agoura nada de benéfico ou proveitoso. E se o que reclamo e exijo como consumidora é motivo para utopia, já nem o futuro do futuro é risonho.

Não obstante a todos os tablóides ou estações televisivas, realizadores ou rádios que estão reservados a esse papel de sensacionalistas, o que faz com que a sua coerência esteja infinitamente hipotecada, existem os restantes cujo desempenho respeitável durante décadas lhe tem valido o prestígio.

Esta guerra no Médio Oriente tem servido para demonstrar as teias em que o Mundo está preso, mas ainda a ambição desmesurada de alguns meios de comunicação em lucrar, em vender e em ganhar…mesmo que isso implique demarcar partidarismos e apoios facciosos, o que é frívolo. Espero que o paradigma retorne ao que os define e não permaneça no que se tornaram. A crítica ao homem e o desespero com os seus actos também é fungível a vocês. É bom que não esqueçam e não se por politiquices, vendendo a alma do jornalista: o desafio, a intrepidez e a verdade!


publicado por portalegreeomundo às 10:31
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