Sábado, 20 de Janeiro de 2007

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Ignoramos todos os dias a vida. Só nos apercebemos da condição da nossa Existência quando nos deparamos, de forma directa ou indirecta, com o que a finda de maneira inexorável. Choramos a morte, mas quantas vezes rimos pela vida? Angustia este opróbrio à Humanidade para os que acreditam ser o fim e não recomeço ou a ascensão a qualquer redoma inefável. Para os solitários e desprovidos de refúgios religiosos, dogmáticos, cultos…a morte é tão somente o apropriar da vida, cujo corolário é o desaparecimento a título perene e irreversível.

 A morte é o primeiro contacto com o imbróglio que é a vida. A Vida que quando menosprezada e isenta de dedicação será continuamente uma amálgama inextricável.

Pergunto, perguntam e perguntamos todos: para onde? Reclamo, reivindicam e revoltamo-nos: porquê? Insurgem-se uma panóplia de argumentos e justificações sobre os quais não temos controle e que transcendem a hegemonia do que nos aguenta: a razão. A subjectividade do sentimento que faz daquele que sucumbiu insigne obnubila qualquer visão indulgente e compreensiva do que é inelutável. Já não sofre o que pereceu, padecem os que ficaram, a quem cresce um buraco nunca mais ocupável. É então que a memória é suprema e impera, como que automatizada impõe-nos os momentos que interiorizámos atenuando a nossa culpa e saudade. Fechamos os olhos e saltam os sorrisos em uníssono, os olhares comprometidos, os abraços calorosos, os colos insubstituíveis, a proximidade que sempre existiu mesmo com a força da distância física…

Fragmenta-se o que nos preenche porque por momentos perdemos o sentido e razão para existirmos! Enquanto escondida, porque nunca está ausente, a morte é longínqua. Quando sentida torna-se sobejamente inexplicável, transformando o que nos rodeia num poço de inanidade. Furta tudo.

A nostalgia e a dor da perda não deixam ver que se a morte não tem motivo é porque o egoísmo o esconde.

Mas e a vida? Somos relutantes, renitentes, contundentes, assertivos e hostis á contra-partida de estar vivo; mas somos igualmente e na mesma proporção entusiastas, felizes, receptivos e apologistas ao antónimo da morte? A resposta é peremptoriamente e indubitavelmente não! Não existe qualquer equivalência entre a revolta suscitada pela a morta e alegria que devia estar associada á vida. A morte queremos perceber quando a vida não nos dedicamos a entender…

 Vagueamos pelas teias das explicações e desistimos de solucionar porque nos instalamos no conforto da resignação. Pugnamos contra o que excede o poder da compreensão momentânea, mas não valorizámos, usufruímos ou consideramos o que é imputável à atitude individual: o gozo da vida. Somos letárgicos no enaltecimento da vida enquanto vivemos. Só com a morte nos recordamos da vida, ainda que por ínfimos segundos porque o restante tempo é reservado ao insulto da omnipresença que nos levou quem era nosso.

A vida não é apenas o antónimo da morte. A vida não é o simples respirar diário. Esta é uma condição necessária mas não suficiente para definir o elixir da continuidade. A vida é muito mais que o compósito inegável e tangível, todavia o homem insiste em manter o limiar ténue entre as duas formas do ser.

A Existência impõe-nos um fim, mas quem nos imputa a restrição mais nefasta e limitação paralisante é o próprio homem. Viver é entregarmo-nos todos os dias aos seus apanágios tão singelos quanto puros: ouvir e perceber, olhar mas sobretudo reparar, tocar e sentir, aprender e pensar, cheirar e interiorizar… Não nos entregarmos ao hábito de estar vivo.

Vivemos à espera de acontecimentos desejados cuja confirmação delegamos ao destino,  à sorte  e à espera exacerbada, quando a maioria das vezes a pertença desses desejos ao Mundo dos sonhos só se deve à indolência da vontade.

Até quando a estar vivo vai ser somente o contrário de estar morto?      


publicado por portalegreeomundo às 20:09
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A noite: síntese da postura típica!

 

O indivíduo muda em função do meio em que está integrado, este é um facto indubitável e constatável nas situações mais triviais. Altera-se a pessoa e simultaneamente a sua postura, estado anímico e relação com o que consigo interage. Este fenómeno é incrivelmente tangível e visível na cidade de Portalegre, ou melhor, no comportamento dos seus concidadãos para consigo.

Podendo enumerar uma panóplia infindável de exemplos que ilustram o que advogo, escolho a noite, que de certa forma, é um espaço que consubstancia todas as faixas etárias assim como os interesses divergentes.

Antecipando o que devia ser conclusão a verdade é que subestimamos e menosprezamos o nosso, sobrevalorizando, e às vezes inadvertidamente, o alheio. Em Portalegre, tudo é serôdio, retrógrado e insatisfatório. Fora de Portalegre, tudo é fantástico e admirável, mesmo quando a clivagem entre este e outros espaços é diminuta ou inexistente.

Portalegre evolui, porque proliferam os espaços nocturnos assim como a sua qualidade, e regride, concomitantemente, porque a conjuntura social não acompanha o incremento estrutural. Estão asseguradas todas infra-estruturas fulcrais - população, espaços próprios para diferentes intenções, preços, etc.- a uma noite dinâmica e movimentada e o que se verifica é exactamente o oposto.

Confirmando a regra, a responsabilidade é profusas disseminando pelos diferentes pilares da localidade.

No respeitante ao órgão de soberania local não facilita nem realiza as devidas diligências para que o negócio nocturno vingue e consequentemente logre a cidade. Assumido toda a insipiência que me é imputável pelo desconhecimento, é notória a ausência de uma política de equidade. Generalizam-se os imperativos, aplicando as regras que regem a noite portalegrense a qualquer espaço seu constituinte, mesmo sendo evidentes as clivagens entre eles. A concretização do principio de igualdade advém também da consideração da diferença. Tendo os espaços nocturnos diferentes estatutos – tasca, café, bar, bar dançante ou discoteca – terão de simultaneamente deter diferentes obrigações assim como prerrogativas. Não se reclamam privilégios infundados ou benefícios injustificados, mas tão somente os apanágios correspondentes às qualidades que possuem e propriedades que facultam. Julgando o poder local que esta é preocupação cuja responsabilidade pode ser delegada, a verdade é que quando, com os meios que possui, não fomenta o dinamismo nocturno, está, mesmo que obliquamente, a ser responsável por um dos campos onde a letargia predomina.

Os espaços nocturnos, para não cingir a noite aos bares mesmo sendo o mais vulgar na cidade, não são incólumes. O rótulo de vítimas aplica-se, mas parcialmente. São, fundamentalmente, responsáveis na medida em que não se esforçam para uma inter relação minimamente salutar e frutífera. Ébrios pela ambição de lucrarem isoladamente prorrogam a imagem deplorável associada à noite portalegrense, acusada de exígua. À semelhança de outros âmbitos, preocupam-se apenas com o dilatação dos seus ganhos sem se aperceberem que é a presença do equilíbrio entre eles que erradica os resultados nefastos para todos. A título de exemplo foco a prática de preços irrisórios por alguns bares comparativamente ao regular. Claro que isso é opção assim como risco daquele opta por esta estratégia, desde que não afecte as partes, diferentes bares, e o todo, a noite de Portalegre. A estratégia é aparentemente benigna porque o corolário imediato será a concentração da clientela naquele bar, todavia e a longo prazo os efeitos serão manifestamente nocivos para a globalidade, contrariando as conclusões do custo de oportunidade do mesmo bar. Acaba por compelir toda a concorrência a conformar-se com o satisfatório quando poderia alcançar o óptimo. Pois coagem os restantes que consigo coexistem a praticarem preços semelhantes ou arriscarem-se à falência e encerramento pela impossibilidade de prática de preços idênticos. O bar que contraria a tendência do preço de mercado, processo que não é inusitado em Portalegre, ludibriado pelo lucro exasperado causado pela táctica adoptada não percebe que a clientela considerável é temporária e perecível. Pois outros acharão uma forma insigne e inaudita de se demarcar, devolvendo as consequências ao anterior. É inolvidável que esta é a lógica que alimenta a dinâmica do mercado, a competição da concorrência com fim aos ganhos, mas não quando isso implica deslealdade e adversidades frívolas para os seus protagonistas: oferta e procura. Coabitação salutar e até convergência de objectivos não impele homogeneidade e no entanto contribui para a concretização das aspirações que são unânimes: aumento dos clientes, ocupação dos espaços e desta forma lucro generalizado, que nunca é igualitário, claro.

Culminando o role de responsabilidades e atipicamente ao habitual, aqui é a população a culpada primordial. É flagrante a forma como relativiza o que a cidade tem de valorizável. Condena veemente e consecutivamente o que já existe e, ironicamente, é contundente ao original que vai emergindo. O caricato atinge o paroxismo quando os argumentos que atesta imperam enquanto se reside em Portalegre mas desaparecem fora dela. Os preços, os consumos mínimos, a música entre outras são desculpas que justificam a falta de vontade em frequentar a noite de Portalegre. Contudo estas são circunstâncias características de qualquer bar, com a ingente diferença que lá fora são agudizadas: a música é igual, os preços drasticamente mais elevados, os consumos mínimos substanciais muitas vezes sem benefício de consumo, e curiosamente os Portalegrenses frequentam e até apreciam.

Peroro reconhecendo que todos são réprobos, não deixando de reconhecer a preponderância dos meus compatriotas. Os Portalegrenses não valorizam nem usufruem o que Portalegre vai oferecendo com mais diversidade e qualidade, admirando-se depois que seja repugnada por todos os pólos: mais população, investimentos, empresas, etc.

A solução passa por não nos resignarmos ao carácter inapelável da noite de Portalegre, assumpção que é sofisma, e exortar assim como preservar as suas qualidades, começando aderir em massa. É imperório abdicar de enaltecer o que existe fora das muralhas, adquirindo uma perspectiva abrangente que permita reparar que oferecemos o mesmo e muitas vezes mais e melhor.

Se a responsabilidade é inerente a cada facção também a extinção do que está mal é atribuível a todos. Não obstante ao poder concentrado nos bares e Câmara porque detêm o monopólio das alterações estruturais, a população pode, se quiser, ser uma adjuvante indispensável. Concentrando-se na cidade espoleta o dinamismo.

O risível transcende o aceitável quando problema não se deve á ausência de procura ou carência de oferta, mas sim à incongruência entre ambas, porque o catalisador – vontade de se coadunarem – se coíbe da função de elo de ligação.

Não vamos protelar o subterfúgios que em tempos foram críveis, mas que começam a ser obsoletos!


publicado por portalegreeomundo às 20:08
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O fim como o principio de um início!

 

O fim impele por norma ao acto que devia ser quotidiano: a reflexão. Pensamos no que fizemos, dissemos…no que preterimos e optamos…no logro e malogro…nos sonhos e concretizações. Só com este balanço anual, praticamente imperório, conseguimos construir uma linha condutora que atribua sentido a tudo o que passou. Somente com a meditação retrospectiva chegamos às respostas que procuramos incessantemente e diariamente. O culminar assusta, não só porque representa o findar de algo a que, bom ou mau, nos habituamos, mas porque compele ao início, começo ou recomeço de qualquer outra coisa. E o desconhecido é medonho! É curioso como a passagem de um dia remete para uma mudança exorbitante. Demonstra como estamos dependentes do exterior assim como nos agarramos às suas contingências: o fim do ano não é só o começo de um outro, mas sobretudo o início de uma nova vida!

Portalegre é uma síntese de cada um de nós e de todos. Enquanto viveu nem ela nem nós víamos sentido para as suas opções. Era um alvo de críticas categóricas e condenações peremptórias. Agora trespassado uma ano é um poço de glórias, onde a evolução é inolvidável. O paradoxo é incompreensível, mas  a verdade é que a vida quando vivida é sempre encarada de uma forma lúgubre e soturna, vazia e carente de explicações para o que sucede e acontece; a vida quando relembrada é perfeita, a justificação para os momentos maus surge e encaixa no aparecimento dos bons que procedem. A memória é como uma máquina fotográfica, o seu resultado é apenas um retrato seleccionado, ludibriado por uma escolha involuntária mas subjectiva. Se devemos confiar neste dom da reminiscência porque nos confere bem-estar, ainda que temporário, porque se exalta o lado positivo da vida, devemos duvidar da mesma pela sua incapacidade de reter a totalidade e obedecer a uma linearidade. E por tudo isto advogo a necessidade de cogitação todos os dias, não podemos passar por nós e pelo que nos rodeia esperando perceber o que se passa só quando termina. Porque inalienável à sensação fantástica de tudo fazer sentido , vêm sempre as suposições que nos deixam desesperados e a certeza de que uma outra escolha ou decisão teria alterado tudo. O tempo, e consequentemente o ano, é relativo porque a sua celeridade ou morosidade depende exclusivamente da posição individual, do processo de interacção. Ou então como se explicaria que uma noite com a mesma duração de todas as outras representasse a metamorfose das nossas vidas?

Viver, sonhar, sentir e pensar devem ser prescrições constantes! Temos uma incapacidade indescritível de lidar com o presente e por isso alegamos a sua inexistência. Tudo porque somos incapazes de conviver a com o que não detemos uma posição hegemónica e manipuladora: o passado está ao serviço do que escolhemos proscrever e apagar e optámos por guardar, o futuro é o peão da arbitrariedade da imaginação. É a inanidade que se afasta sempre que nos aproximamos, cuja unidade que o define é o “depois”, para qual se remetem os projectos. Se longínquo está este tempo, distante se encontra o que o constitui, ou seja, a segunda melhor parte da vida: o sonho, porque a primeira é a sua vivência.

Para quê esperar pelo dia 1, quando podemos ser o que queremos e realizar o que conjecturamos já no dia 31? Julgar que a alteração do número é sinónimo de uma mudança irrefragável no individuo é protelar a estagnação e permanecer inebriado por uma esperança cuja materialidade cabe nas nossas mãos. Esperar é alcançar, indubitável. Mas é concomitantemente desesperar, quando desprovido de aspiração, desejo, ambição e, claro, vontade. Há uma panóplia infindável de situações que nos transcendem, mas não a possibilidade de decidir o nosso rumo. O destino é supremacia do Homem, de forma alguma resultado da transição do ano. Perceber e interiorizar estas  premissas prioritárias  que ignoramos em cada ano é resolver uma série de problemas internos, cuja responsabilidade e solução delegamos no omnipresente metafísico.

O que nos circunda afecta a nossa forma de estar, de agir, de pensar mas nunca o intrínseco e a essência de cada um. O exterior é tão só um adjuvante e paliativo. Esquecer esta certeza é sucumbirmos à tentação da automatização e descriminar o que nos diferencia, a capacidade de discernir, a faculdade de pensar, o poder de sentir e acima de tudo  a aptidão para consubstanciar estas instâncias.  

Que a vontade de expurgar e expiar os erros, da alterar a vida e mudar o Mundo não se restrinja aos míseros segundos em que fechamos os olhos e saudamos o ano novo!

 

 


publicado por portalegreeomundo às 20:07
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