Segunda-feira, 7 de Maio de 2007

O lado oneroso da mudança!

A globalização emerge como fenómeno inelutável impelindo a inoculação de uma transformação inaudita. A Idade em que vivemos, ou sobrevivemos, está confinada a uma ambiguidade suprema e inigualável, razão que justifica a dificuldade em determinar um termo consensual que a conceptualize satisfatoriamente. Alguns relegam-na a ao mero período ulterior ao anterior: Idade Pós-Moderna; muitos outros são contundentes ao conceito, considerando-o diminuto, uma vez que a conjuntura que deflagra a contemporaneidade é mais do que a simples radicalização ou agudização das características do período antecedente; insurgem-se ainda os paladinos de períodos remotos, mais pragmáticos, consideram o século XXI a Idade Pós-Metafísica ou Pós-Ttradicional atendendo às premissas que não exasperam controvérsia. Não obstante á presença de características inolvidáveis do Classicismo e era Tradicional nos tempos que decorrem, é um facto iniludível que no que diz respeito ao conhecimento, mais propriamente, ao que lhe confere legitimidade, fundamento e autoridade os seus alicerces mudaram drasticamente, comprovando que, pelo menos, na área epistemológica a ruptura é indelével.

São os novos meios para disseminação do conheciment que me suscitam preocupação dilacerada. Sem querer limiar a posição ufana de crítica que simplesmente colige o lado deplorável da situação, exímia na condenação mas ignota na exegese global, a verdade é que como cidadã e sobretudo receptora destes  modelos originais de conhecimento me consinto o direito de pugnar quando a situação é pesarosa.

Os meios de comunicação, mais propriamente a televisão, são os protagonistas de uma notícia que erradica o regozijo. Os microprogramas são a novidade. Inefável para os seus mentores, porque a confinam ao seu carácter anódino. Nociva, na verdade, porque é mais uma índice do funesto que prolifera,  é mais uma materialização da faceta deplorável da celeridade.

Com o intuito de emular a Internet que impera, a televisão sucumbiu ao seu formato trespassando de uma forma inadvertida entretenimento e informação cada vez mais exígua porque exageradamente sintéctica. Se os telejornais portugueses pecam e se afastam do que deve ser arquétipo, pela duração, os restantes são réprobos porque cometem o assimétrico.

A BBC caucionou um acordo com a “Youtube” para divulgar no mesmo site conteúdos em formato pequeno; o ex-vice-presidente americano Al Gore lançou em Londres a Current TV cuja finalidade é a profusão de filmes de três a oito minutos, com intuito de fomentar o interesse do destinatário e claro não ser minimamente fastidioso; o director da BBC conjectura a hipótese de circunscrever o noticiário à sua faceta mais lacónica, limitando-o ao  minuto ( caso do programa “60 seconds” do canal BBC3) alegando a ausência de resistência do seu público; e não chegando a excessiva concisão para transbordarem os defeitos, ainda são facultados os meios para que a época seja de paroxismo de subjectividade e hegemonia perigosa do arbítrio individual. Mesmo pressupondo, quero acreditar, o escrutínio anterior dos programas pelos competentes, o “Chanel Five”(canal privado) já ocupa metade do seu noticiário da noite com “clips” enviados pelos telespectadores.

Facilmente nos deixamos ludibriar pelos apanágios inerentes ao vanguardismo da comunicação tangível nos exemplos enumerados e na conjuntura à nossa volta, todavia é deveras premente que consideremos que a ambivalência é uma constante. São irrefragáveis as prerrogativas imanentes a esta liberdade de expressão e confiança no individuo anónimo, se porventura, essas facilidades forem apropriadas considerando valores, probidade,  rigor e competência. O busílis da questão é precisamente a aptidão para a promiscuidade entre liberdade e libertinagem. Extrapolamos e aproveitamo-nos da maneira mais nefasta quando de alguma forma reclamam que nós, civis, sejamos mais activos e participemos de forma responsável no processo de sermos um Mundo que se conhece. Depressa aparecem peças denotando proselitismo, puritanismo obscuro onde a auto-promoção e o prosaico estão latentes. Atendendo ao facto que nos dias que correm parecer ser condição necessária e simultaneamente suficiente a existência de público, duvido que sejam censuradas ou impedidas de serem transmitidas, mesmo que isentas de conteúdo.

Paralelamente aos efeitos subsequentes à mutação do receptor em emissor, coexistem as consequências inerentes à fugacidade dos programas, sobretudo porque se perscrutado dissimulado no fenómeno está uma forma de vida comum e ignóbil: a do consumo sem critérios ou requisitos, a da procura de tempo que nunca chega porque a tranquilidade pereceu, a da realização de tudo com a máxima rapidez chegando o superficial e a ligeireza para que, aparentemente, nos distanciemos do néscio;

Os microprogramas são um sintoma idóneo da postura e forma de estar de agora, satisfaz-nos e chega-nos o geral que no fundo é inanidade porque em lugar de ser adjuvante à compreensão é condicionante. Muito embora reconheça o exagero subjacente ao que consigno, creio que nos aproximamos da barbaridade. Não nos imiscuímos nos contextos, não permitimos que se entranhem as conjunturas e ainda assim logramos opinar, comentar, repudiar ou aceitar, agora até produzir!

É primordial recordar, uma vez que parece proscrito, que a comunicação é um pólo com uma supremacia incomensurável exigindo como tal a presença total, e não parcial, de profissionalismo. Como componente  auxiliar considero benéfico a contribuição do público através de realizações pessoais, como peças que ocupam espaços  nos jornais equiparando-se a um trabalho jornalístico acho contraproducente e pernicioso.

Os tempos são de indigência da sapiência e carestia de dedicação, ausência de vontade de saber e preocupação exasperada em sobressair e ser conhecido apenas,  se são criadas as condições propícias  à parcialidade desprovida de credibilidade acredito que o amanhã será um imbróglio inextricável.

 

 


publicado por portalegreeomundo às 22:17
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Será o cinema a síntese de um povo?

 

A aversão à estagnação parece ter-se ausentado da cidade no que concerne à cultura. Portalegre é a cidade que surge nos jornais como motivo de  vergonha, com um número de espectadores  irrisório nas sessões de cinema comparativamente a outras cidades. O cinema é a sétima Arte e para a contemporaneidade a primeira hipótese de exceder os limites. O cinema é a luzinha que tanto se fala quando a esperança teima em perecer,  porque é vítima de uma atenção incomensurável comprovando que a Humanidade ainda padece de uma réstia de interesse pelo Mundo que a envolve. Por tudo o que implica não é deveras agradável constatar que a nossa cidade relegou mais uma vez os lugares cimeiros e não lhe bastando a distância do início, ainda persistiu no honrado lugar de última.

Portalegre logrou adquirir uma panóplia de infra-estruturas que incentivam à Modernidade longínqua até então e remota desde há muito, mas a inexistente receptividade dos seus congéneres insiste em rejeitá-la peremptoriamente, não dissimulando o repúdio intrínseco a qualquer sintoma de vanguardismo. O desprezo pelas prerrogativas legadas pelo desenvolvimento faz de nós seres anémicos, susceptíveis de um enclausuramento eterno no obsoleto e serôdio. Mais pungente que preterir desfrutar dos indultos diligenciados é não coligirmos as consequências nefastas dessa conduta.

O cinema não está, de forma alguma, confinado ao brilhantismo dos seus protagonistas, à ousadia e audácia de muitos realizadores, às expensas que movem Hollywood e os fans ludibriados pelo mundo frívolo subsequente, a uma noite de Óscares onde os panegíricos inebriam os mentores dos filmes cujo o consenso fez deles inigualáveis. O cinema é a ruptura do conúbio espaço/tempo. É a possibilidade de viajarmos no tempo, de conhecermos lugares, culturas, conjunturas furtivas e omissas sem a presença física ou vivência no tempo respectivo. É a oportunidade de contactarmos com meandros diáfanos e inóspitos que sustentam os alicerces que regem e movem a sociedade e assim cada um de nós, sem para isso precisarmos imiscuirmo-nos empiricamente. É indubitável a dualidade no que concerne ao cinema, ao mesmo tempo que nos dá o Horizonte, permite-nos ver e viver situações sem reclamar a conjectura ou nostalgia recheada de lacunas; impõe-nos a fronteira, porque nos limita concomitantemente quando veladamente conduz o destinatário num sentido. Todavia e não obstante à ambivalência irrefragável, a verdade é que o cinema é a possibilidade de sermos mais conscientes, é a alternativa à cegueira que nos compelem e que nós agradecemos pelo conforto que a condição suscita. Não sendo o ar, o cinema é a botija de oxigénio que nos alivia da asfixia corolária à insipiência, ignorância e desconhecimento que os inexoráveis invólucros políticos e sociais nos imputam.

A liberdade é um apanágio inelutável das sociedades actuais mas a sua dimensão já excede a prescrição e depende fundamentalmente da postura de cada um! A liberdade alimenta-se da curiosidade, informação e inconformismo. Somos mais autónomos e, assim mais livres, quanto mais sages, conscientes e informados. Como podemos pugnar ou mudar sem sequer inteligir que algo está mal e que os instrumentos para que fique melhor não nos transcendem?

O cinema não é indispensável à sobrevivência, mas é indelevelmente uma adjuvante á existência! Mesmo que frequentemente exerça uma influência ignóbil sob o público, conduzindo a uma interpretação unívoca e remetendo-o à passividade da singela recepção, o seu lado benigno não deixa de se sobrepor À sua índole mais deplorável. Faz de realidades distantes epicentros de preocupação, ainda que temporariamente. Exige que a perplexidade não seja efémera porque quando se vê é inaceitável que não se seja contundente. Exorta as mentes displicentes, reitera a responsabilidade individual e conjunta demonstrando que a pusilanimidade e a conspurcação são práticas diárias de dissolutos a quem confiámos as premissas do nosso destino como Mundo. Se antes seria verosímil a letargia do cidadão comum pelos obstáculos em obter a informação e posteriormente agir, agora é de todo infundada por todos os meios facultados por um desenvolvimento inaudito. Estar consciente  e informado é apenas o mínimo que se pode esperar e exigir num Mundo onde é demasiadamente fácil aceder sem se ficar pela superficialidade.

Ignorar o facto de existir uma África com um potencial incomensurável continuamente manipulada e sob a égide dos que a financiam e insistem no peixe em lugar da cana para pescar (”Blood Diamond”); ignorar como uma decisão pode mudar a nossa vida (“Dèja-vu”), não fazer a analogia da história do indígena de “Apocalypto” com cada uma de nós, onde através de uma história dos antípodas obsequiamos a teoria do “bon sauvage” do insigne Rosseau, a sociedade que corrompe o individuo, é simplesmente restringirmos tudo a um pântano de inanidade, em que nos limitamos a fazer o que é inerente ao homem porque nascemos e não porque insistimos em ser!

Assim sendo confesso que Portalegre ou melhor as pessoas de Portalegre não deixam de ser de alguma forma ambíguas. A fleuma dos compatriotas é conclusão peremptória cuja razão só pode ser uma propensão intrínseca para nos confinarmos à redoma da impossibilidade ilusória e desprezo pela velha máxima “o pior cego é aquele que não quer ver”! Ávidos de narcisismo ainda quando o egoísmo é hábito trivial não concebemos sequer a nossa culpa no protelar de muitos contextos. A imagem em conúbio com a palavra é a simbiose perfeita, informa e elucida porque ilustra.

Será que os números sintetizam um povo e uma cidade? Será que nós, os portalegrenses, nos regozijámos com a premissa errónea que cada vida é uma insignificância perante a Humanidade? Espero que este repúdio pelo cinema tenha desculpas que desconheço e que a razão não seja precisarmos de dormir descansadamente e acordar melhor com a nossa consciência, por percebermos que o peso da mesma seria insuportável se conhecêssemos e ostracizássemos.

 

 


publicado por portalegreeomundo às 22:11
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Leis soberanas para súbditos submissos!

 

Os tempos são de explosão demográfica legal e, paradoxalmente, de laxismo endémico. Prescrevemos obsessivamente e incessantemente procurando impelir ou coagir a aproximação ao idóneo e o que logramos é o afastamento lancinante do arquétipo!

Imbuídos na rotina acutilante e presos nas preocupações mesquinhas e triviais, que não matam mas moem, ignoramos o facto dos nossos horizontes passarem, paulatinamente, a fronteiras progressivamente restringidas. A liberdade é deveras um valor primordial que, agora, não passa disso, porque isento de materialização. Circunscrito ao ideal não excede a inanidade. Os tempos são de obesidade galopante e preocupante, mas os estandartes de um estado de Direito parecem não padecer do mal, uma vez que o seu estado de tibieza é evolutivo!

Não pretendo a concretização da anarquia, mas também não simpatizo com o despotismo resultante de um aproveitamento sagaz dos órgão de soberania do instrumento que numa democracia faculta o controle inexorável ainda que oblíquo e dissimulado. De facto as leis são um bem benigno a qualquer sociedade salutar, todavia e como em tudo, o excesso acaba por espoletar a patologia.

Leis anti-tabagismo, leis anti-.poluição, leis anti-obesidade… são apenas algumas que pelo invólucro imanente da pertinência, necessidade e proveito obnubilam a constatação dos suas consequências mais deploráveis. Os intuitos são de louvar e valorizar: minimizar ou erradicar as doenças corolárias das respectivas práticas, garantir a existência de um estado parcimonioso que assim diminui as expensas com as operações ou curas que subsidia, evitar que terceiros sejam prejudicados pelos vícios nefastos de outros, fazer dos indivíduos cidadãos e finalmente pessoas. Não obstante às aspirações vantajosas iniludíveis, considero que as mesmas não passam de paliativos quando o que se verifica é displicência dos que as deviam acolher. Sublevam-se na aplicação das coimas ou sanções por comportamento indevido, arranjam subterfúgios para sub-repticiamente contornarem a lei, e o pior, quando cumprem o prescrito pela mesma fazem-no porque temem as represálias e não por fins altruístas.

O que idealizo aproxima-se da quimera somente porque habituados ao que nos tornamos não cogitamos sobre quem deveríamos ser! A liberdade está em vias de extinção e nós somos os maiores réprobos. Limitam-nos a liberdade e nós compactuamos com o incremento do que nos enclausura quando incapazes de autonomamente agirmos da forma apropriada. As leis são imperórias porque a Humanidade está em degeneração e, corroborando Kant, em estado de menoridade.

Era o próprio quem devia coibir-se de fumar em locais públicos se próximo de pessoas que não o fizessem sabendo que prejudicava a saúde alheia e porque os efeitos do vício, sendo uma opção sua, se devem circunscrever ao seu mau-estar; deveriam ser as crianças e adolescentes a preterirem da alimentação funesta à saúde porque conscientes dos seus resultados a longo prazo, feito exequível por meio de um processo  tácito entre educação escolar e familiar que passasse pela persuasão e consciencialização sem limiar o controle exacerbado, claro; a comunidade, ou seja os indivíduos que a constituem, deveriam proibir-se de sujar levianamente as ruas não só por motivos estéticos mas essencialmente porque a atitude diária  e permissiva é que faz do flagelo aquecimento global uma realidade verosímil;

Somos insignes porque o únicos seres providos de razão, mas depressa fizemos do apanágio apenas mais uma das imensas características que detemos. Passamos a ser iguais porque extirpamos o que nos diferencia: o poder de escolha e decisão, no fundo a autonomia! A agudização da dependência é irrefragável e esse é motivo plausível e que justifica o autoritarismo destas leis risíveis assim como a proliferação de outras congéneres!

 Confesso que para mim é difícil intelegir como, mas deve ser reconfortante e sobretudo muito cómodo sermos autómatos e submissos face ao julgamento que outros fazem da conduta perfeita. O que assevero não é uma forma camuflada de exortar comportamentos incautos e que desafiem a autoridade das leis, pelo contrário. A ambição teleológica é o decréscimo quantitativo das leis e a restrição dos âmbitos aos quais aludem, pela genealogia do indivíduo. Se a nossa máxima for susceptível de ascender a lei moral e geral, não será dispensável esta panóplia de normas sociais? A lei tem de vir de nós , não pode ser para nós!

Se concretizável tal mutação no ser humano muitas das situações confrangedoras que agora experienciamos seriam possibilidade remota relegada a um tempo passado. Em lugar da reestruturação dos serviços, aumento do desemprego consequente, supranumerários e emigração crescente como forma profícuas para evitar gastos excessivos, obliterar-se-iam os serviços de limpeza das ruas, não seriam necessários impostos exorbitantes para cobrirem as curas de um país maioritariamente doente e teríamos um Estado muito mais frutífero dedicado ao relevante e não ao que deveria ser competência exclusiva do indivíduo: o seu comportamento.

Liberdade não é fazer o que se entende sem limitação, censura ou adversidade, mas realizar e exarar o que pretendemos porque o escrutínio pessoal é suficiente!


publicado por portalegreeomundo às 22:08
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