Ontem vi uma reportagem com o alto comissário das Nações Unidas. Entristeceu-me e fez-me pensar. É uma verdade adquirida de que o Mundo é ambíguo e, especialmente, antagónico, mas quando constato este facto fico revoltada. Depois da barreira criada durante a Guerra Fria, que dividiu o Mundo em duas partes, parece ter nascido uma outra que, embora invisível, bem mais difícil de destruir ou transpôr. Já não chegam as fronteiras para nos dividir, as assimetrias para nos afastar, como ainda todas as condicionantes e jogo de interesses para agudizar e efectivizar a distância. África, América Latina, Médio Oriente, Sul Asiático são algumas das regiões mais pobres. Onde as necessidades básicas são ainda alimentação, água potável, o saneamento básico, a habitação (ou existência dela)... Mais contraditório e revoltante é o facto de muitos desses países possuírem todos os instrumentos para se tornarem fortes potências. São ricos em matérias-primas, possuem mão de obra, têm solos férteis, recursos naturais, águas abastadas...uma panóplia de situações propícias Às actividades económicas primárias, como a agricultura ou a pesca. O problema é deles, mas não só deles. Num Mundo onde se tenta a globalização, com aspirações uniformes e objectivos comuns, não se pode responsabilizar, exclusivamente, a má condução nesses países. Principalmente quando muitos deles, senão a maior parte, foram vítimas de guerras civis duradoiras fruto, por sua vez, de um abandono precoce e mal equacionado por parte das potências coloniais. Maior que o peso do passado, é o peso do futuro. Pois a evolução destes países continua subjugada aos interesses dos mais ricos. Ao contrário do que se insiste em passar: a incapacidade das instituições, a culpa é dos países prósperos, insaciados por uma ganância pura de crescer mais, mesmo que em detrimento de outros. O que se pretende quando se fala de ajuda não é dependência. É incrível e irrisório, a maneira como a História se repete e como nós não aprendemos com ela. O que se faz agora é semelhante com o que os E.U.A fizeram com a Europa (através do Marshall Plan) e com a América Latina (através de um conjunto de acordos que implicaram a dependência militar, económica e política, em prol de uma América mais unida). Repete-se o mesmo com estes países. A curto prazo é fundamental darmos comida, roupa, água para garantirmos a sua sobrevivência, mas longo prazo temos que dar os alicerces para que se tornem autónomos. Num Mundo que se pretende global, não pode haver selecção dos que podem ou não fazer parte dele. Tem de haver um crescimento conjunto para que se consiga o intuito. É um facto, ou mais outro, que esses países são, tendencialmente, governados por pessoas que não correspondem ás suas necessidades. A pobreza é enorme, mas a corrupção é ainda maior; Os recursos económicos são poucos, mas a vontade de os aproveitar é ainda menor. É verdade que, mesmo com boa intenção, o caminho que esta tem de percorrer para chegar ao destino está recheada de cruzamentos e caminhos obscuros. Assim, sem o mínimo de seriedade de quem dá e quem recebe, é difícil iniciar ou incrementar algo que seja. Mas também é verdade que esta não é a única razão. As barreiras levantadas ao investimento das poucas industrias que possuem , os mercados que são submetidos aos interesses dos maiores, o livre-cambismo que só beneficia os que já são ricos dificulta, ainda mais, a situação. O fosso deixou de ser entre ricos e pobres, e começa a ser crescente entre culturas. Como contrariar a tendência? Perguntam. Para começar substituir o peixe pela cana de pesca! |
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