Terça-feira, 12 de Setembro de 2006

A democracia da nossa era…

 

Já remonta os antípodas a dificuldade, senão mesmo impossibilidade, de materializar uma qualquer ideologia. A incapacidade não reside na facção (esquerda, direita ou centro), e insiste em ser um defeito inerente a qualquer governo ou governante. No que diz respeito Às ideologias a situação até é admissível, uma vez que muitas delas estão recheadas de utopia, contudo e quanto ao regime subjacente a situação muda radicalmente de figura. O comunismo, a social-democracia, o socialismo, o fascismo, entre muitas outras, são tudo correntes cujas vertentes podem variar em função da sociedade, do tempo e até de quem lhe dá corpo no momento. Embora seja contestável a tendência, uma vez que princípios deviam ser incólumes a contextos, a situação é inelutável. Mas o mesmo não pode acontecer com os tipos de regime. A promiscuidade que se evidencia nas ideologias, nunca pode suceder nos regimes. Ou seja, democracia, tirania, anarquia, monarquia, oligarquia…quando o são, têm de o ser no sentido lato e restricto, na sua essência e pureza absoluta, sem que haja alguma dúvida do que foi escolhido.

Extraindo todo o alarmismo ou radicalismo associado, tal não acontece em muitos dos países mais desenvolvidos do mundo. Combatemos o despotismo oriental, a corrupção partidária africana, o populismo sul-americano e nem nos damos conta que a nossa democracia vai adquirindo consequências cada vez mais nefastas. A democracia pressupõe multipartidarismo, divisão de poderes, soberania do eleitorado, mas acima de tudo liberdade. Quem é eleito e governa fá-lo com legitimidade, sem dúvida, o que não implica ignorar o cidadão.

Assisti-mos a uma democracia verdadeiramente camuflada e a proximidade com os tempos em que se desenvolve impede a nossa análise e contestação. Imiscuídos na normalidade dos acontecimentos não nos damos conta da forma como muitas vezes são ultrapassados valores que temos como absolutos em prol de um programo a favor da população! Indubitavelmente, a democracia existe! Todos os seus requesitos são preenchidos até ao momento da eleição, depois inicia-se a ditadura plural, de instituições e órgãos. O problema é que agora não é em detrimento da liberdade, em favor de um déspota ou de forma exacerbada, mas em benefício do bem! Os intuitos mantêm-se: o controle da sociedade em benefício da mesma, os meios é que alteraram.

É incontestável a necessidade de assegurar muitas situações para que se alcance o bem-estar geral e isso pressupõe um certo autoritarismo, mas não todos e qualquer um. Espanha, Portugal, E.U.A, Inglaterra são países democráticos que têm contribuído para esta ideia. A forma como tentam manipular tudo começa a ganhar conotações realmente frívolas. Por exemplo o caso do tabaco, da comida, e agora até a circulação dos carros. O mais perigoso de tudo é que as medidas são proveitosas e tem como objectivo uma sociedade mais equitativa, mas o que assusta é a destruição do livre-arbítrio e da consciência humana. O que se consegue com esta política é a construção de indivíduos autómatos, submetidos a conjunto de imperativos impostos pelas leis do Estado, que se sentem obrigados a cumprir temendo as condenações posteriores e isentos de qualquer sentido de conduta devida. Somos nós quem tem de decidir se quer ou não fumar e onde o deve ou não fazer, sabendo que isso é um vício que prejudica terceiros; somos nós que tem de optar pela alimentação balançando a importância da mesma no nosso bem-estar pessoal e consequente desempenho social; somos nós que temos de analisar como o uso do nosso carro, tendo transportes públicos ou podendo ir a pé, prejudica a longevidade do planeta;

Chegámos a um extremo realmente nocivo para a noção de ser racional. O Estado promulga leis sucessivas que substituem a decisão individual e nós agimos, não de acordo com o que consideramos certo ou errado, mas em função da possível coacção. A culpa não é de um partido, mas de todos. Controlando-nos progressivamente o estado consegue dinheiro que não ganha noutros sítios, juntando o útil ao agradável, e nós tornamo-nos seres passivos, indolentes que sucumbem ao que outros estipulam estar certo, permitindo-nos em idade adulta comportarmo-nos como crianças. Talvez a próxima lei devesse exigir a leitura de Kant!


publicado por portalegreeomundo às 17:42
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